segunda-feira, agosto 28, 2006

troca-letras

o cenário: Vários
a cena: Quando eu era pequena, cheguei em casa toda feliz, pedindo à minha mãe que comprasse papel crepon para fazer uma fantasia de borboleta. “É que na minha escola vai ter a festa da catapora, mãe!”. A festa, claro, não era para comemorar pintinhas vermelhas espalhadas pelo corpo, e sim a primavera. As duas palavras tem quatro sílabas e, convenhamos, são até parecidas... Com o passar dos anos, percebi que o trocar de letras não é um problema tão grave assim. Pelo menos, não é algo incomum. Transcrevo aqui umas frases que ouvi nos últimos dias. O incrível é que as palavras são trocadas, mas o sentido permanece. Pelo menos para mim, que cresci com minha mãe me acordando e pedindo para eu me apressar e colocar o pijama (uniforme) para ir para a escola...
- Vou ali na farmácia comprar nosso café-da-manhã (padaria)
- Hoje à tarde, só tenho dois preconceitos (compromissos)
- Quando a enfermeira trouxer o lanche, me acorda (aeromoça)
- O cabeleireiro lavou meu cabelo com shampoo e adoçante (condicionador)
- Eu achei o programa enquanto zapeava no computador (controle remoto)
moral da história: O importante é se fazer entender

terça-feira, agosto 22, 2006

pára-choque de doido

o cenário: Balcão de lanchonete
a cena: Domingo à noite, não dá para voltar pra casa com a barriga vazia. Por isso, eu e meu namorado paramos numa lanchonete. Já no balcão, notei figuras estranhas no recinto. No caixa, um cliente emocionado comentava que freqüentava o lugar desde os tempos de escola. “Estou lembrando de você”, respondeu educadamente o dono da lanchonete. O outro se exaltou. “Lembra nada!”. A conversa continuou até culminar em uma discussão sobre se a professora da escola vizinha estava viva ou não. Do outro lado, notei a presença de um cara alto e forte, roupa esportiva, i-pod grudado na orelha. Até aí, tudo normal. Mas o olhar não me enganou. Logo vi que se tratava de um doido. Minha desconfiança se confirmou na hora em que ele pediu duas fatias de pizza. Apontou para o atendente: quero o primeiro pedaço daquela metade e o terceiro dessa metade. Foi atendido. Comeu calado, olhando para os lados, com o suor escorrendo pelo rosto. Na hora de pagar, puxou papo com o dono da lanchonete. Com os olhos arregalados, mostrou um aparelhinho eletrônico e apontou para a bicicleta parada do lado de fora. “Já pedalei 72 quilômetros hoje. Até o final da noite, vou chegar aos 90. Faço 700 por semana”, comentou. Quando viu o valor da conta, contou o dinheiro e reclamou. “Perdi cinco contos aqui. Só tenho R$ 4”. “Pode me pagar depois, fica tranqüilo”, disse o dono. Certo estava ele. Às dez da noite de um domingo, numa quadra vazia, você cobraria o dinheiro de um cara desses?
moral da história: Existem lugares (e pessoas) que atraem doidos

sexta-feira, agosto 11, 2006

o carro da frente

o cenário: Engarrafamento, às 14h
a cena: Estava atrasada para o trabalho, engarrafada em uma tesourinha na Asa Norte. Com o ar condicionado ligado e já com a desculpa para o chefe na ponta da língua, quase nada me incomodava. Quase nada, a não ser a cena bem à minha frente... Um motorista simplesmente resolveu fazer do carro um banheiro e começou ali mesmo sua higiene bucal pós-almoço. Animado, chegou bem perto do espelho retrovisor e começou a cutucar os dentes com o fio dental. Esfrega daqui, puxa dali, o moço abriu o vidro e deu um ‘cuspidão’ para fora do carro. Fiquei atônita. Para meu desespero, o delicado rapaz repetiu o gesto três vezes. Tentei desviar o olhar, prestar atenção nos outros carros, mas não consegui. A cena me perseguia. Ainda bem que ele virou à direita e eu segui em linha reta.
moral da história: Tem gente que faz cada coisa dentro de um carro...

quarta-feira, agosto 09, 2006

psicologia materna

o cenário: Banheiro de aeroporto
a cena: Entrei no banheiro do aeroporto e, inevitavelmente, ouvi a conversa na cabine ao lado. A mãe queria que a filha tirasse o cachecol – provavelmente para não arrastar no chão ou no vaso sanitário. A filha resistia. Pela voz, percebi que era uma criança bem pequena. A mãe começou a ameaçar a filha: “Se você não me der esse cachecol agora, eu vou pegar e dar de presente para a Joana”. A filha retrucava: “Não vai, não. Ele é meu”... Numa demonstração de ausência total de psicologia, a mãe intensificou o terrorismo: “Não é seu, não. Fui eu que comprei, com o meu dinheiro. Por isso, dou pra quem eu quiser. Vou entregar pra Joana”. Não preciso nem dizer que a menina saiu do banheiro aos prantos, não é? Antes de chegar ao aeroporto, ainda dentro do avião, presenciei uma cena oposta. O molequinho não parava de apertar o botão que chama a aeromoça, fazendo aquele barulho irritante a cada cinco segundos. A mãe, interessada na conversa com a vizinha de poltrona, nem se incomodava. De vez em quando, olhava para ele e dizia: “Não pode, filho. A aeromoça vai ficar triste se você não parar”. Lógico que ele não parou...
moral da história: Difícil acertar a dose de autoridade e compreensão

sexta-feira, agosto 04, 2006

quem fala?

o cenário: Telefone celular
a cena: Nove e meia da noite, o celular dele toca.
- Alô
- Quem fala?
- João
- De onde?
- Ué, você que me ligou, você deve saber, né?
- Mas alguém me ligou desse número e eu passei o dia fora... Estou retornando a ligação. Me chamo Maria
- Não me lembro de ter ligado para nenhuma Maria, não... Liguei para tanta gente hoje.
- Pra quem você ligou?
- Bem... estou reformando um apartamento. Você trabalha com material de construção?
- Não. Onde é o apartamento?
- Na Asa Sul.
- Eu trabalho na Asa Sul!!
- Você trabalha onde?
- No cartório
- Não liguei para o cartório
- Poxa...
- ....
- Então, tá bom. Se você lembrar de alguma coisa, liga de novo...
moral da história: As pessoas são carentes