quinta-feira, março 30, 2006

pena de freira

o cenário: Rua comercial
a cena: Eu e uma amiga estávamos olhando para o vai-e-vem do comércio quando avistamos uma freira. Minha amiga suspirou e disse: “Tenho pena de freira”. Começamos a conversar sobre o dia-a-dia das irmãs. Elas não têm idéia de quão bom é sair de uma loja carregando uma sacola com um sapato novo. Elas não vivem a delícia e a culpa de comer chocolate compulsivamente e depois exagerar na academia para ‘queimar’ o pecado cometido. Elas não dormem tarde. E não viram a noite em plena quarta-feira, tendo que ir para o trabalho na quinta, com a cara mais lavada do mundo. No calor, elas não deixam a nuca descoberta e não vestem uma blusa de alcinhas. E, no final das contas, nem missa elas podem rezar.
moral da história: Eu também tenho pena de freira.

segunda-feira, março 27, 2006

formigando

o cenário: Mesa do chefe
a cena: Segunda-feira, dia de despachar com o chefe. Conversa vai, conversa vem, parei de falar, comovida. “O que houve?”, ele quis saber. “Um enterro de formiga, olha”. Apontei para uma formiga carregando a outra, correndo de um lado para o outro, procurando uma saída.
- Como você sabe que é um enterro?
- Ué, a formiga que está sendo carregada está morta, não está vendo?
- Ela não está morta. Está parada. Para mim, não é enterro. É a mãe carregando a filha...
- Mas se ela estivesse viva, estaria mexendo as perninhas, não?
- Não. Se ela estivesse se debatendo, não seria mãe carregando filha. Seria uma formiga sendo seqüestrada por outra...
moral da história: Sabe aquela história do copo meio cheio ou meio vazio? Pois é... lembrei dela e percebi que preciso mudar meu ponto de vista

quinta-feira, março 23, 2006

que se exploda

o cenário: Caixa Econômica Federal, ao meio-dia
a cena: Ir a banco já é um estresse. Quando este banco é a Caixa, dá vontade de chorar. Hoje, tive meu dia de fúria lá dentro. Cheguei cedo, coloquei meu nome na listinha para ser atendida. Lá eles não distribuem senha; anotam seu nome e vão chamando. É no grito mesmo. Só que, num passe de mágica, você conta umas dez pessoas na sua frente e, quando vai ler na lista, existem umas 25. “Por que tem tanta gente na lista se esse povo não tá aqui?”. O estagiário petulante explica que são os clientes que “agendaram” pelo 0800. Maravilha, agora dá para marcar lugar na fila pelo telefone. Ótimo para os otários, como eu, que vão ao banco pessoalmente. Resolvo sair da fila e sacar o dinheiro no caixa eletrônico (na verdade, preciso tirar o dobro do que é permitido diariamente, mas diante da situação, me contento com a grana que o terminal pode liberar). Seria rápido e eu me livraria da Caixa. Ledo engano. “Cartão cancelado”. Como assim??? Volto, bufando, para dentro do banco. No atendimento, não tem senha nem lista de nomes. Fico em pé na frente do guichê, disputando a tapa a atenção do funcionário. “A Caixa teve alguns terminais clonados e, por isso, cancelou TODOS os cartões que utilizaram esses terminais”. E ninguém me avisou isso?? “Mas o cartão já foi enviado para a sua casa, senhora”. Sim, e daí? Preciso do dinheiro hoje. Quando o rapaz me informa que eu tenho que voltar ao caixa – aquele da lista interminável de nomes – e a gerente se recusa a tirar o dinheiro para mim porque “os outros clientes vão achar que eu estou furando fila”, tenho um ataque de fúria. Perco a pose e toda a meiguice que grande parte das pessoas considera inerente à minha pessoa. Olho para o vigia – pobre vigia – e disparo: “Se eu tivesse condições, juro que explodiria este banco!”. Mais tarde, já livre e retomando a calma, comecei a ficar apreensiva. E se algum maluco que presenciou a cena resolve colocar uma bomba na agência? Com a minha declaração devidamente gravada pelo circuito interno de TV, vai dar cadeia na certa.
moral da história: Não abra uma conta na Caixa nunca. E se já for correntista, retire todo o seu dinheiro de lá. Aquele banco vai quebrar. Ou explodir.

sexta-feira, março 17, 2006

na toscolândia

o cenário: Ruas de uma cidade distante
a cena: A duras penas, descobri que existe um lugar chamado “Toscolândia”. É de lá que vêm todos os toscos do mundo. E a população da Toscolândia não é formada só por homens, não. A tosquice não escolhe sexo, idade, naturalidade. Dia desses, entrei numa farmácia. A balconista olhou para mim e, em vez do tradicional ‘pois não’ ou ‘posso ajudar’, disparou: “O que foi?”. Quase pedi desculpas por querer comprar um Polaramine. Numa outra ocasião, sentei na lanchonete com duas amigas. Pedimos sanduíches e o de uma das minhas amigas era enorme. Ela não conseguiu comer tudo. A garçonete veio retirar os pratos e perguntou se ela queria que embalasse para viagem. Minha amiga recusou. A tosca da garçonete – cheia de boas intenções, não vou negar – rebateu: “Você prefere jogar no lixo a dar o resto do seu sanduíche para um pobre na rua, é???”. Diante da delicadeza da moça, pegamos a embalagem e fizemos a alegria de um carroceiro que passava.
moral da história: A Toscolândia é aqui. Rezem por nós.

sexta-feira, março 10, 2006

abelhudo

o cenário: Lanchonete, ao meio-dia, numa quarta-feira
a cena: Duas amigas almoçavam numa lanchonete perto do trabalho. A decoração do local, cheia de vasos de plantas, atraiu insetos. Uma abelha insistente escolheu uma das meninas como alvo. Voava para um lado, voava para o outro e dava um rasante no nariz da moça. Depois, passava pelo outro canto da mesa e voltava na maior velocidade em direção ao sanduíche. Desesperada, a menina se debatia e quase derrubava a comida de tanto mexer com as mãos. Um cara que estava na mesa ao lado se aproximou. “Você está usando perfume doce?”. A moça refletiu. “Estou com um creme meio adocicado”. Com uma expressão fatalista, ele olhou para a abelha, voltou a encarar a menina e sentenciou. “Você não vai escapar”.
moral da história: A gente tenta, mas tem hora que não dá para escapar

quarta-feira, março 01, 2006

tribos na folia

o cenário: Baile de carnaval
a cena: Este ano, resolvi ‘aproveitar’ o carnaval em Brasília. Já que minha viagem só estava marcada para a quarta-feira de cinzas e alguns amigos meus também estavam perdidos por aqui, fui curtir o bloco na rua e o baile no clube. No sábado, cheguei ao bloco meio tímida, deslocada. Mas bastou comprar um tubinho de “neve artificial” para a folia começar. Como criança, corri pela rua, armada, atirando espuma para todo lado. A vítima não importava. Podia ser criança, adulto, vendedor de cachorro-quente. Fiquei exausta, como se tivesse atravessado a Sapucaí. Domingo foi a vez do baile. Descobri que o folião da cidade não segue um padrão. Apesar do ibope baixo, o samba tinha gente de todo tipo. Tinha velhinho de blusa listrada, chapéu e sapatos brancos. Tinha homem de bermuda e mulher de salto de acrílico. Tinha casal de mulher. Travesti. Bruxinhas. Mascarados. E tinha uma figura engraçada. O cara de cabelos longos, típicos de roqueiro, usava um chapéu de caubói, vestia uma blusa do Bob Marley e estava se acabando de sambar na pista. Fiquei me perguntando se aquilo era uma fantasia ou uma demonstração de democracia musical.
moral da história: Viva a diversidade!