quinta-feira, junho 29, 2006

revolução digital

o cenário: Festa junina de escola
a cena: Quadrilha de criança é uma coisa fofa. Aqueles pinguinhos de gente, com bigode ou maria-chiquinha, rebolando sem ritmo, com olhos assustados procurando os pais. E as máquinas fotográficas pipocando na platéia, registrando cada passo. A câmera digital é uma revolução. Não existe mais o medo da foto perdida. Não existe mais o limite das 36 fotos, com o risco de umas cinco queimarem. O que existe é a curiosidade instantânea. Todo mundo quer ver como a foto ficou, ver se o cabelo está bom, se os olhos não saíram fechados. O que me chamou a atenção na festa junina da minha afilhada foi o comportamento das crianças. Mal o “clique” terminava, elas já corriam para o lado dos pais, pedindo: “deixa eu ver”. Procuravam o visor e ai de você que não tivesse uma máquina digital. A criançada não compreende a câmera escura. Um desavisado tio foi à festinha e arriscou tirar uma foto em uma máquina tradicional. A criança quis ver o resultado e não achou. Olhou para ele com uma cara assustada. Não adiantou ele explicar que, no outro final de semana, iria à casa dela com a foto revelada. Ela baixou a cabeça e saiu de fininho, magoada com o tio bobo, que guardou a imagem só pra ele.
moral da história: Lembrar da máquina Love é atestado de velhice...

quinta-feira, junho 22, 2006

gel redutor

o cenário: Meu quarto
a cena: No fim de semana, fui surpreendida por uma tração na retina. Sensação terrível de ficar quinze minutos enxergando apenas o que estava no canto direito do meu campo de visão. Devidamente diagnosticada e orientada, passei os dois primeiros dias da semana em casa, de molho. Como não dava para forçar a vista, o que poderia se transformar em um ‘feriado’ acabou virando um momento de tédio total. Por isso, resolvi fazer experiências. Decidi testar um gel redutor para combater celulites e flacidez... As instruções diziam para aplicar o produto na área a ser tratada e deixar por 15 minutos “ou até a sensação de resfriamento passar”. Segui tudo à risca, sem ter noção de que a tal sensação de resfriamento era simplesmente congelante e não passaria em menos de meia hora! Com as cortinas fechadas para os vizinhos não testemunharem meu momento gel, coloquei um travesseiro no chão, ajoelhei e me apoiei na cama. Não sei se estou sendo clara, mas fiquei de bunda para cima por mais de 30 minutos, tremendo de frio. Acho até que deu para pagar meus pecados, que não são tantos assim. Até o fim da semana, tenho que reaplicar o gel. Mas, com a vista melhor, já voltei a trabalhar. Além disso, hoje tem jogo, amanhã é sexta, sábado tem festa junina da minha afilhada, meu namorado chega de viagem no domingo... Acho que tenho coisas melhores para fazer.
moral da história: Ficar de quina para a Lua não é o mesmo que nascer na referida posição

sexta-feira, junho 16, 2006

cardápio assassino

o cenário: Lanchonete
a cena: Dois amigos meus foram almoçar em um fast-food. Pediram a comida, sentaram e começaram os trabalhos. Estavam concentrados nos petiscos árabes, quando um objeto não-identificado – grande e pesado, diga-se de passagem – nocauteou um dos dois. Meio tonto ainda, meu amigo olhou para a mesa e viu que o petardo era o cardápio da lanchonete. Sem a ajuda do outro amigo, que não conseguia fazer nada a não ser rir, ele olhou para os lados à procura de uma explicação para o ataque. Deu de cara com duas criancinhas, com olhos arregalados. O menino menor baixou a cabeça e correu para a mesa onde os pais estavam. O maior saiu do recinto, meio ressabiado, numa mistura de vergonha e vontade de sacanear a vítima. Apesar da dor na cabeça, do almoço semi-destruído e da cara feia que ele fez para os moleques, meu amigo pegou o que restou do sanduíche árabe e sorriu por dentro. Lembrou dos tempos de criança e torceu para que, um dia, seus filhos saibam aproveitar a infância, mesmo que isso signifique uma guerra de cardápios numa lanchonete lotada.
moral da história: Fique atento. O golpe pode vir de onde você menos espera...

segunda-feira, junho 12, 2006

nanotecnologia

o cenário: Casa do vovô, domingo à tarde
a cena: Fui visitar meu avô no final de semana. Conversa vai, conversa vem, ele disparou: “Se eu fosse mais novo, iria me especializar em Nanotecnologia”. O sonho dele é diminuir o ser humano. Quanto menor, melhor, mas ele fica satisfeito se conseguir reduzir o homem pela metade. Diante da minha perplexidade, meu avô mostrou que a idéia tem fundamento. “Um homem menor comeria metade do que a gente come hoje. Além disso, os prédios de Brasília poderiam ter doze andares, em vez de seis. Não haveria necessidade de um pé direito tão alto... Aqui, no meu edifício, moram 48 famílias. Se eu conseguisse diminuir o homem, caberiam 100 famílias... Poderíamos resolver vários problemas”. A conversa continuou nesse rumo. Meu pai tentou argumentar que o “meio homem” comeria mais do que o homem inteiro, proporcionalmente. Confesso que, quando os detalhes chegaram na esfera da física, eu perdi a linha de raciocínio e fui conversar com a minha avó sobre pães de queijo. Mas voltei pra casa com as idéias do meu avô na cabeça. Ele tem 87 anos de idade e quer diminuir o ser humano...
moral da história: Nunca é tarde para sonhar

sexta-feira, junho 09, 2006

olhar dos outros

o cenário: Quadra de Brasília
a cena: Era uma manhã de sábado. Eu observava o movimento na rua. Primeiro, vi uma mulher olhando em direção a um muro. Parecia procurar algo. Depois, notei que um homem fazia a mesma coisa. Inclinei a cabeça, para descobrir o alvo de todos os olhares. Encontrei uma mocinha, com cara de estudante e máquina fotográfica pendurada no pescoço. Talvez ela estivesse fazendo um trabalho para a faculdade. Apontava a lente para o chão, provavelmente captando imagens de coisas largadas por lá. E todo mundo que passava acompanhava o olhar da câmera. Notei até que uns dois rapazes andavam sorrateiramente atrás da moça, disfarçando e conferindo cada ‘clique’. O sol foi esquentando, a pele branca da moça começou a mudar de cor e ela foi procurar imagens melhores entre os prédios. Dobrou a esquina e deixou para trás um monte de gente que, por uns instantes, viu a vida através do seu olhar.
moral da história: É sempre bom levar em conta outros pontos de vista

segunda-feira, junho 05, 2006

coisa de doido

o cenário: Avenida movimentada, às 14h
a cena: Eu estava indo pro trabalho hoje, um pouco atrasada, braço dolorido por conta de uma vacina contra sarampo que tomei por tabela... Fui pela W3 e, à minha direita, vi um enorme outdoor de uma operadora de telefone celular. Era uma propaganda para o Dia dos Namorados. Tinha coração, ofertas de aparelhos fantásticos, cores e... uma espécie de pedestal com um casal abraçado. Explico: não era foto. Era uma estrutura em frente ao outdoor com um pobre homem e uma desafortunada mulher se abraçando. Os dois estavam com camiseta da empresa, calça jeans, óculos escuros. A mulher estava de boné. Era o mínimo que ela podia fazer para enfrentar o sol de rachar que aparece em Brasília às duas da tarde. Passei pelo casal rapidamente e fiquei me perguntando: o que faz uma criatura inventar esse tipo de propaganda? O que faz outra criatura aceitar esse tipo de trabalho? E o que faz o cara da empresa bancar um outdoor desses em um lugar afastado do semáforo, onde os carros estão passando a, pelo menos, 60 km/h?
moral da história: Esses publicitários são loucos. E se alguém entendeu a mensagem do anúncio, por favor, me explique...