segunda-feira, junho 27, 2005

invasoras

o cenário: Gabinete de um ministério
a cena: Entrevista é uma coisa importante. Eu, como repórter, chego toda séria, compenetrada, bloquinho na mão e cara de quem entende TUDO do assunto árido. Meu entrevistado começa a falar e, enquanto anoto, uma formiguinha passa pela mesa. Continuo anotando, outra formiguinha. Tomo um gole de água, coloco o copo do porta-copos, mais uma formiga. Como era inevitável disfarçar a presença das invasoras, o moço começou o ataque. Falava um pouquinho sobre dívida pública e, pimba, matava uma formiga com o dedo. Depois, abria um arquivo no computador e dava um peteleco em outra intrusa que tentava escalar o monitor. Entendo esse drama. Já tive a casa invadida por formigas. Quando elas resolvem transformar o apartamento em “lar, doce lar”, é um inferno. Difícil encontrar remédio para exterminá-las. Por isso, resolvi ser solidária. Ao final da entrevista, estávamos os dois amassando formiguinhas na mesa. Coisas da vida.
moral da história: Se não for possível esconder o problema, não adianta disfarçar. O melhor é assumir e tomar uma atitude.

sexta-feira, junho 24, 2005

passeio expresso

o cenário: Embaixo do bloco
a cena: Madrugada de quinta-feira. Eu estava batendo papo na portaria do meu prédio, chegando de um jantar. Pouco antes de uma da manhã, o elevador de serviço chegou no térreo. Saíram dele uma moça com roupa de festa (preta, com detalhes em prata, decotada demais para uma noite gelada) e um cachorro branco. “Boa noite”, “Boa noite”, a moça abriu a porta e saiu com o cãozinho. Um minuto depois, ela voltou. Entrou no elevador e chamou: “Vem, pet!”. O pobre coitado do animal, que – tenho certeza – não teve tempo nem de fazer xixi, passou por mim com o rabinho cabisbaixo. Tudo foi muito estranho: a roupa da moça estava estranha, a hora do passeio também, o tempo que ele durou, nem se fala. Fiquei com pena do cachorro. Talvez, fosse melhor esperar por um passeio de verdade, na manhã seguinte.
moral da história: Se não agüenta, por que veio?

segunda-feira, junho 20, 2005

pé de feijão

o cenário: Cozinha, eu e um pratinho
a cena: Hoje é aniversário de um amigo muito especial. Resolvi enchê-lo de presentinhos virtuais. Mandei mensagem no celular, escrevi coisinhas no orkut e agora estou fazendo um post para ele (claro que também liguei, né, porque sou uma amiga real...). Mas aí, cheguei em casa e quis "fabricar" um presente. Não sei se por falta ou excesso de inspiração, tive uma idéia brilhante: plantei um pé de feijão! O que isso tem a ver com ele? Não sei... ele nem se chama João... É que lembrei do tanto que eu ficava feliz quando era criança e escondia os grãos de feijão num pires com algodão molhado. Todos os dias, ia lá e molhava um pouquinho. E acompanhava o crescimento daquela plantinha. Achava o máximo ela brotar do algodão. Vou voltar no tempo e cumprir o mesmo ritual. Se o pé de feijão ficar bonito, dou de presente pro meu amigo. Se não, pelo menos foi divertido...
moral da história: A vida é muito mais do que o fechamento de um jornal.

sexta-feira, junho 17, 2005

furo de reportagem

o cenário: Meu apartamento
a cena: Estava eu, calma e tranqüila, acordando, quando a campainha tocou. Era a faxineira do meu prédio. Abri a porta meio contrariada, de camisola de flanela – o frio faz dessas coisas... “Você não é mais jornalista?”, disparou. Sou, claro que sou. Ela continuou, perguntando o que eu estava fazendo às sete da manhã, que não ouvi a confusão lá embaixo. Segundo o relato emocionado da moça, um ladrão tentou arrombar o caixa eletrônico com um pé-de-cabra, a polícia viu, saiu correndo atrás dele, gritando ‘pega ladrão, pega ladrão’, até que – muito tempo depois, e sem a ajuda dos apavorados transeuntes – o cara caiu no chão e foi algemado. “Ah, essa hora eu estava dormindo”, expliquei. Ela me repreendeu: “Pois é... perdeu um furo de reportagem!!!”
moral da história: Não existe escolha sem perda

quarta-feira, junho 15, 2005

criançofobia

o cenário: Supermercado, à noite
a cena: Saí do trabalho ontem e decidi me juntar aos milhares de solteiros do meu bairro que tomam sopa no supermercado. Comprei meu caldo verde e sentei na primeira mesa. Mal dei a primeira colherada e uma criaturinha se aproximou de mim. Era um menino de uns quatro anos. Apoiou os cotovelos na mesa e ficou me olhando. Fiquei paralisada. Descobri, então, que sofro de “criançofobia”. Minhas amigas grávidas que me perdoem, mas tenho pânico desses seres que andam como gente grande, falam como gente grande, mas são pequenininhos e muito mais espertos do que gente grande... Não sei como me comportar quando estou com uma criança. Elas são um perigo... sabem o que a gente está pensando e captam muito bem todos os nossos sentimentos. Por isso, nem me arrisco a fazer um “bilú-bilú”, porque até um bebê de três meses detectaria minha falsidade. Voltando ao menino do supermercado, respirei fundo e disse, na maior sinceridade: “oi, tudo bem?”. Ele olhou pra mim e respondeu: “tudo”. Sorriu e foi saindo da mesa, com cara de: “tá bom, tia, vou te deixar em paz”.
moral da história: Ah, se os adultos soubessem metade do que as crianças sabem...

terça-feira, junho 14, 2005

sinceridade ou falta de noção?

o cenário: Agência de viagens
a cena: Resolvi ir a Cuba nas minhas férias. Um amigo sugeriu e eu gostei da idéia. Sempre tive vontade de conhecer a terra de Fidel – e nunca se sabe até quando a ilha será terra de Fidel... Pesquisei alguns preços pela Internet, mas achei melhor ir a uma empresa especializada. Conversar com agentes de viagens sempre é bom, esclarecedor, animador... a não ser que você queira... ir a Cuba. Mal sentei em frente ao agente e ele já fez uma careta. “Tem certeza de que você quer ir pra lá? Posso te oferecer mil lugares melhores...”. Sim, tenho certeza. “É por uma questão política? Você quer ver aquela pobreza?”. Como era uma manhã de segunda-feira, pensei na semana inteira que teria pela frente e sorri. Peguei o folhetinho com os preços, o folder com as fotos dos hotéis (“Não pense que todos os prédios de Cuba são luxuosos assim, viu?”) e prometi voltar depois. E, quem sabe nas próximas férias, aceitar a sugestão de ir para Cancun...
moral da história: Tem hora em que é melhor ficar calado – principalmente se você for agente de viagens e precisar da comissão no final do mês.

segunda-feira, junho 13, 2005

caridade

o cenário: Entrada de uma festa junina
a cena: Eu e dois amigos resolvemos ir a uma festa junina em um clube dos bons. O ingresso custava trinta reais, mas se você levasse um quilo de alimento não-perecível, pagava meia. Como nós três tínhamos carteirinha de estudante, nem nos preocupamos com a fome alheia. Mesmo sem ter colaborado com doações, fiquei chocada quando passamos por um cambista, que fazia a propaganda: “Aqui você paga meia sem precisar doar alimento!”. Tudo bem que não é nada confortável chegar numa festa com um quilo de arroz debaixo do braço, mas alardear as vantagens para quem não faz caridade é um pouco demais, não é?
moral da história: Será que fazer o bem é ruim?

quinta-feira, junho 02, 2005

tempo

o cenário: Mesa com computador
a cena: Não consigo produzir pílulas para o blog. Até acontecem coisas interessantes por aí, mas, na hora do vamos ver, não consigo sentar e escrever. Acho que é um momento de crise. Talvez um inferno zodiacal antecipado (o meu só começa daqui a três dias). Preciso repensar minha “relação” com o blog. Logo eu, que odeio essas coisas, tenho frio na espinha só de pensar em discutir relação, em dar tempo e em todas essas coisas de crises em relacionamentos... Mas, vou admitir: preciso de um tempo... Tem gente que não entende isso (eu nunca entendi). Por isso, não vou ficar triste se meus ‘leitores’ não tiverem paciência. Faz parte, né?
moral da história: Tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos