quarta-feira, julho 04, 2007

rex e o mundo das artes

o cenário: Parede lá de casa
a cena: Juntar os trapinhos não é uma simples expressão. Ao me casar, levei para o novo lar as minhas coisas, que tiveram que dividir espaço com as coisas do meu marido. Na fase de decoração do apartamento, nós nos demos muito bem. Temos um gosto parecido e conseguimos montar uma casa linda, com a nossa cara e totalmente diferente das nossas casas anteriores. E isso aproveitando muito do que já tínhamos. A discórdia veio apenas na hora de pregar os quadros na parede. A maioria foi consenso. Mas meu marido trouxe debaixo do braço um quadro com um cachorrinho de língua pra fora e olhos arregalados. O tal do cachorro se chama Rex e foi retratado em diversos lugares do mundo. No caso do quadro que está lá em casa, Rex está em frente ao Pão-de-Açúcar - não o supermercado, mas o morro. O tal do bichinho sabe ser feio. E meu marido queria 'promovê-lo' à parede da sala. Briguei, esperneei e concordei em colocá-lo no escritório, atrás de uma estante, bem escondido. A contraproposta veio: pendurá-lo na varanda, onde nossa cachorra fica. Achei muito óbvio um quadro de cachorro em cima da caminha da cachorra. Diante do impasse, o quadro permanece encostado no fundo do corredor, esperando uma parede que o mereça. Só que, esta semana, aconteceu um fato inesperado. Angelo de Aquino, pintor do Rex, passou desta para melhor. Morreu aos 61 anos, no Rio de Janeiro. Assim como no mercado das artes, aqui em casa, o quadro do falecido artista passou a ter mais valor. Já estou pensando em um lugar mais nobre para ele. Hoje, passando pelo corredor, achei o cachorrinho mais simpático. E tive a impressão de que seu olhinho esbugalhado piscou para mim.
moral da história: Já dizia a física: tudo depende do referencial

segunda-feira, julho 02, 2007

biro biro

o cenário: Festa de casamento num domingo de manhã
a cena: O casamento era ao meio-dia. Gastei neurônios, sola de sapato e dinheiro para encontrar uma roupa adequada ao evento. Pode usar preto? Pode ir de calça? E vestido longo? Será que tem que ir de chapéu? Depois de muitas perguntas, conselhos e uma troca de roupa na última hora, cheguei à festa. Lá, conversando com os convidados, descobri que não fui a única a enfrentar o dilema. E, melhor, os homens também sofreram. Havia gente vestida de tudo quanto é jeito: do terno à camisa de botão com calça jeans. A grande surpresa foi Biro Biro. Durante a semana, enquanto pensavam na roupa que iriam ao casório, todos os amigos de Biro Biro apostaram que ele iria com uma roupa informal. O traje do rapaz fazia parte de conversas do tipo: "Será que precisa ir de terno pro casamento do Marcos? Ah, cara, acho que sim, mas você já imaginou o Biro Biro de terno??" Pois é. Acontece que os amigos apostaram na informalidade de Biro Biro e foram de calça jeans. Quebraram a cara. Perto da hora da cerimônia, eis que surge Biro Biro, superelegante, com um terno azul. A galera foi pra cima. Como assim???? Calmo, o rapaz - um negro, com cabelo cheio de estilo - explicou: "Rapaz, num lugar assim, o negão é o primeiro a ser reparado. Eu TINHA de vir de terno!" Biro Biro confessou: se fosse branco, iria pro casamento de bermuda.
moral da história: Num mundo em que se prega a igualdade racial, até o guarda-roupas é diferente.