quinta-feira, abril 27, 2006

transgênicos

o cenário: Gôndola de supermercado
a cena: Passei um bom tempo da minha vida evitando conversas sobre transgênicos. O tema é polêmico e, por mais que eu buscasse informações, não conseguia escolher um lado. Contra ou a favor? Pesquisei na internet, li artigos e descobri que argumentos não faltavam. A cada dia, eu ficava mais confusa. Lia um texto defendendo os transgênicos e concordava com o autor. Depois, encontrava uma entrevista com um especialista criticando as pesquisas genéticas e já mudava de opinião. Pensava no lado social e nos riscos ecológicos. Também temia os interesses econômicos, que poderiam ser maiores do que a preocupação com a saúde. Levava tudo isso em consideração, mas não chegava a nenhuma conclusão. Mas agora, tudo está mais claro para mim. Descobri que o Chokito é transgênico. E que eu não vivo sem Chokito. Finalmente, posso sentar em uma mesa de bar e levantar o dedo com orgulho quando perguntarem quem é a favor dos alimentos geneticamente modificados.
moral da história: Um bom ponto de vista é sempre baseado em bons fundamentos

terça-feira, abril 25, 2006

sagrado coração

o cenário: Fila de espera de um restaurante
a cena: Véspera de feriado combina com sushi. Eu, meu namorado e Brasília inteira pensamos assim. Resolvemos ir a um restaurante japonês e tivemos que encarar a lista de espera. Encostamos no balcão e começamos a colocar o papo em dia. Em frente a mim, uma mulher sorria. Tentei vasculhar as gavetas da minha memória para saber se ela era alguma conhecida, ex-professora ou amiga da minha mãe. Não encontrei nenhuma referência, mas ela não parava de olhar para mim. Virei meio de lado, disfarcei, olhei para a rua pelo vidro da porta. A mulher veio em minha direção. “Desculpe, mas a sua blusa é linda. Nunca vi uma blusa assim”, disse. Perguntou onde eu tinha comprado, falei que não tinha sido em Brasília. Ela ficou triste, mas avisou que ia pedir para uma amiga ‘copiar’ o modelo. A essa altura, eu já estava morrendo de vergonha, mas ofereci: “O coração é de tecido. Pode pegar, se você quiser.” Ela olhou para o meu namorado com uma cara de “aí já é demais, né?” e disse: “Imagina se eu vou pegar na sua blusa...”. Mal terminou de falar, já estava com a mão no coração de tecido – e no meu peito, conseqüentemente.
moral da história: Pessoas apaixonadas, mesmo por uma blusa, são capazes de qualquer coisa

terça-feira, abril 18, 2006

te mataré, Ramirez

o cenário: Restaurante em Buenos Aires
a cena: Fim de semana prolongado, viagem para a Argentina a dois, ótima oportunidade para conhecer um restaurante afrodisíaco. A decoração estava nota dez. Ambiente escuro, vermelho e quente, como não podia deixar de ser. O nome dos pratos foi uma atração à parte. Você podia escolher entre “Tu carne, luminaria de fuego, agrava mi placer”, “¿qué pretende usted de mi?” e “Senos complacientes, vientre concecendiente y mis manos obstinadas”. Mas divertido mesmo foi o papo da mesa ao lado. Era um casal de brasileiros. O cara ainda não tinha conseguido o que queria – talvez, por isso, convidou a moça para conhecer o Ramirez. A entrada chegou e nada. O prato principal chegou e nada. A essa altura, o moço já devia estar subindo pelas paredes. Antes da sobremesa, ele se irritou: “Você é um cuzão!”. O clima ficou tenso e ele percebeu – a tempo – que a estratégia estava errada. Uns quinze minutos depois, o discurso era outro. A menina passou de ‘cuzão’ a ‘linda e quase-perfeita’. Ele até parecia compreensivo: “Fodendo ou não fodendo, para mim está tudo bem”, dizia resignado. Se rolou ou não, eu não sei. Mas parece que a moça amoleceu com a mudança do discurso. Levantou, foi em direção à cadeira dele, fez carinho. E os dois saíram felizes da vida, para dançar em uma boate.
moral da história: Comida afrodisíaca ajuda, mas não faz milagre

quinta-feira, abril 13, 2006

programa de índio

o cenário: Conferência Nacional dos Povos Indígenas
a cena: Minha mãe resolveu fazer o papel de esposa perfeita e acompanhar meu padrasto na abertura da Conferência Nacional dos Povos Indígenas. Sei que o trocadilho é infame, mas não dá para resistir. O programa não era dos melhores... Para se distrair, mamãe resolveu passear pelo galpão e observar uma cultura diferente. Na primeira esquina, deu de cara com um índio de terno e gravata. Estranhou, mas relevou por ser uma solenidade importante, coisa e tal. Talvez, o índio só não quisesse destoar dos inúmeros caras-pálidas que por ali passavam. Ela continuou a jornada em busca das vestimentas e dos hábitos indígenas. De longe, avistou um cocar. Animada, correu para lá, pronta para presenciar algum ritual ou coisa parecida. Quanto mais perto chegava, mais cocares via. Os índios estavam sentados. Mas não era no chão, em volta de uma fogueira, compartilhando um cachimbo da paz. Eles estavam concentrados, em frente a computadores, jogando paciência!
moral da história: A globalização chegou na aldeia

segunda-feira, abril 10, 2006

carência no comércio

o cenário: Bares e lojas da cidade
a cena: Isso tem acontecido reiteradas vezes. Sento num restaurante ou entro numa loja e o processo se inicia. Carentes, garçons e atendentes não se seguram e conversam, desabafam, opinam sobre a vida alheia – no caso, a minha. Uma vez, sentei na lanchonete com o meu namorado. Pedimos suco com adoçante. Foi a deixa para a confissão da garçonete: “Estou 12 quilos acima do meu peso”. Numa situação dessas, difícil saber o que falar. Tentei: “Não parece”. Ela continuou: “Pois é. Quero perder dez. Os outros dois eu já incorporei...” Tenho a impressão de que, se eu começasse a falar sobre uma dieta que saiu na revista, ela ia puxar uma cadeira e sentar com a gente. Em outra ocasião, eu estava com a minha mãe num restaurante e o cara da mesa ao lado falava muito alto. Minha mãe comentou isso e o garçom ouviu. Não hesitou em dar sua opinião. “Ele é louco. Vem sempre aqui. Outro dia, disse que homossexualismo era coisa do demônio!”. A última aconteceu em uma loja de colchões. Eu estava escolhendo um D-33 enquanto falava ao telefone. Fiz algum comentário sobre o preço do produto e, quando desliguei, o vendedor perguntou se eu estava falando com meu pai. Respondi que não, que era com meu ex-marido. Ele olhou para mim com uma cara de psicólogo compreensivo: “Vocês estão fazendo a partilha, né?”. Não me dei ao trabalho de responder.
moral da história: Quando você estiver se sentindo sozinho e sem amigos, vá às compras. Seus problemas desaparecerão!

quinta-feira, abril 06, 2006

o troco

o cenário: Apartamento, na calada da noite
a cena: Minha amiga está de casa nova. Acabou de mudar para um apartamento superlegal. Só há um porém: a vizinhança. O bebê do 316 não pára de chorar. E a mãe do bebê do 316 calça um tamanco para socorre-lo. Combinação explosiva de buááás e tec-tecs, que não deixam minha pobre amiga, que mora no 216, dormir até mais tarde. Com as olheiras visíveis, ela chegou ontem em casa às oito da noite. Cambaleando, comeu uma banana e desmaiou no sofá. Lá pra meia-noite, foi para a cama e apagou de vez. Noite totalmente perdida – e logo num dia cheio de eventos sociais. Mas valeu a pena. Às sete da manhã de hoje, o bebê abriu o berreiro. Minha amiga sorriu. “Ah, seu maldito! Você está se acabando de chorar e eu nem estou com sono. Dormi a noite inteira, monstrinho! Se lascou”.
moral da história: Estou na dúvida se essa mudança fez bem à minha amiga...