terça-feira, maio 30, 2006

pod na praia?

o cenário: Búzios
a cena: O iPod é um sonho de consumo que ainda não me seduziu. Confesso que não vejo graça. Tenho agonia daquele pitoco enfiado no ouvido o tempo todo. Fico cada dia mais impressionada com o poder de multiplicação desse aparelho. Vejo na academia, no trânsito, no trabalho, no curso de espanhol, na rua. Mas... na praia também? Sábado passado, lá estava eu caminhando na praia, aproveitando o sol e o barulhinho flutuante do mar. Passei por um cara, sentado na areia, desconcentrado. Em vez de contemplar a natureza, o cara estava com o iPod na orelha, olhando para o chão. Parei e prestei atenção no que ele estava perdendo. Cheguei à conclusão de que a praia sem o som das ondas não é a mesma. E que levar iPod para um paraíso desses é um sacrilégio. A tecnologia pode até ter seu lado bom, mas a gente tem que saber usar.
moral da história: Às vezes, é preciso parar de ouvir para escutar melhor

segunda-feira, maio 22, 2006

oi!

o cenário: Varanda do meu apartamento
a cena: Meus amigos sabem como é a minha casa. O prédio da frente é tão próximo que dá para acompanhar a vida dos vizinhos. Dá até para escrever um livro... Quando eu me mudei, há quase três anos, minha vizinha de frente estava grávida. Passei várias noites observando o ritual. A barriga cada vez maior, ela ficava um tempão na cozinha, descascando abacaxi ou cortando outras frutas. O bebê nasceu e, depois de alguns meses, pude perceber pelas roupinhas que era uma menina. E assim, continuei acompanhando o crescimento da pequena vizinha. Outro dia, resolvi lanchar na varanda. Apoiei o prato no parapeito e, olhando para a rua, dei a primeira mordida no sanduíche. Foi quando ouvi: “Oi!”. Pensei que não era comigo, continuei comendo. Ela se aproximou da grade da janela e repetiu, mais forte: “Oi!”. Confesso que fiquei emocionada. Desde o dia em que ela voltou do hospital, recém-nascida, observo sua vida. Mas nunca imaginei que ela fosse participar da minha. Sorri e perguntei se estava tudo bem. Ela olhou pra baixo, deu uma reboladinha e disse a-han. Eu não soube o que fazer. Dei um tchauzinho e voltei para a cozinha, onde terminei meu sanduíche.
moral da história: A vida dos outros faz parte da minha

quinta-feira, maio 18, 2006

pavarotti

o cenário: Shopping
a cena: Entrar em um shopping depois de trabalho, com a barriga roncando, é caixão. Vou direto para a Casa do Pão de Queijo. Dependendo da fome e do peso na consciência, o pedido varia de um pão de queijo simples com mate diet até dois pães de queijo recheados com chocolate quente e chantilly. Ontem, eu estava na fila com uma amiga, pensando com carinho no cardápio do dia. De repente, atrás de mim, um ruído forte. O rapaz, de terno e gravata, cantava ópera enquanto aguardava. Respirei fundo para não soltar a gargalhada. Pedi dois pães de queijo simples, para andar mais rápido. Enquanto a moça do caixa processava o pedido, pensei que não ia agüentar. A vontade de rir vinha cada vez mais forte. Pensei: não vou conseguir. Eu desconfiava que minha amiga estava passando pelo mesmo aperto. Olhei de rabo de olho e tive certeza. Ela estava mordendo os lábios para não rir. Foi a senha. Caímos na gargalhada. Não olhei para trás, mas a cantoria parou. Depois, de barriga cheia, refleti sobre o assunto. Embalada pelo sucesso de Ídolos, me arrependi de não ter pedido autógrafo.
moral da história: As oportunidades aparecem. Cabe a nós aproveitá-las.

sexta-feira, maio 12, 2006

premonição

o cenário: Álbum de formatura
a cena: Lá se vão nove anos... Em 1997, eu estava me formando na UnB. Na maratona de solenidades, a primeira era a missa. Cheguei lá, tirei fotos, fui para a fila. Os formandos iam entrar na igreja em dupla. O cerimonial providenciou tudo e nos colocou em ordem alfabética. Eu, que tenho o nome com F, entraria com um colega de nome com a letra G. Minha entrada triunfal foi devidamente registrada e está no álbum de formatura. Passei alguns meses mostrando as fotos para os amigos e familiares. Sempre vinha a pergunta: “Esse que está entrando com você na igreja é seu namorado?”. E eu respondia: “Não, gente, é um colega. Entramos juntos por causa da ordem alfabética... Nós nem somos próximos...”. Pois não é que o destino aprontou as dele e resolveu nos aproximar nove anos depois? Hoje, aquele moço da letra G faz parte da minha vida – e não só do meu álbum. Agora ele é, sim, meu namorado e uma das pessoas mais importantes para mim.
moral da história: O cupido pode até demorar, mas um dia acerta a seta

domingo, maio 07, 2006

sinceridade

o cenário: Estabelecimentos comerciais
a cena: No comércio, onde os estabelecimentos só pensam em faturar, a sinceridade não costuma ser muito freqüente. Mulheres sabem disso. É incrível como todas as roupas que você experimenta ficam “ma-ra-vi-lho-sas”, de acordo com a opinião das vendedoras. Às vezes, você sabe que está parecendo um bolo de noiva com aquela saia balofa e a vendedora insiste em dizer que nunca viu ninguém ficar tão bem com a tal da roupa. Mas tenho observado que, no ramo da alimentação, a coisa é um pouco diferente. Para conquistar a clientela e garantir a gorjeta, os garçons têm rompantes de sinceridade. Outro dia, uma amiga estava num bar e escolheu um pastel de queijo. Quis saber se o quitute era suficiente para saciar a fome. “Não vou te enganar, não. O pastel aqui não dá para mais de duas mordidas...”, alertou o garçom. Pouco tempo depois, ele serviu um acarajé na mesa, mas avisou: “Só o bolinho está quente, viu? O camarão sempre vem frio”. Eu já frenquentei uma lanchonete só por causa da sinceridade do garçom. Na primeira vez que fui lá, perguntei como era o molho especial que eles ofereciam no cardápio. “É só maionese”, respondeu. O garçom virou a atração do lugar. Todas as vezes que eu ia lá, ele tinha uma observação nova, sempre sincera. A última aconteceu quando levei meu tio para conhecer a lanchonete. Ele quis saber o que era crouton – aquela torradinha com orégano, que fica ótima na salada. Pois o garçom não teve dúvidas: “É pão velho cortado”.
moral da história: Quando existe sinceridade, até o pão dormido tem o seu valor